Está cada vez mais comum jovens profissionais decidirem não começar suas carreiras de forma tradicional, como em programas de trainee de grandes empresas, para terem a experiência de trabalhar em uma startup. E há alguns motivos para isso: o crescimento do mercado e dos investimentos em startups, e também a proposta de um ambiente inovador e mais descontraído.
De acordo com um estudo da Lavca (Associação Latinoamericana de Fundos de Capital de Risco) publicado na Folha de São Paulo, em 2017 o valor investido em startups brasileiras por fundos de venture capital foi de US$ 860 milhões – um crescimento de 207% comparado a 2016. Só no primeiro semestre de 2018, o Brasil ganhou seus três primeiros unicórnios (empresas com valor estimado de US$1 bilhão), que são a 99, PagSeguro e Nubank. O que mostra que o mercado está cada vez mais promissor.
Para complementar, os benefícios de um espaço mais “cool” também pesam na escolha de entrar nesse universo: ambiente inovador, espaço para experimentação, flexibilidade nos horários e até lanchinhos, puffs e videogame são alguns dos benefícios que têm se mostrado frequentes nas novas empresas.
Parece um sonho, não é? Contudo, há também o outro lado da moeda da carreira em startup.
Carreira em startup: saiba o que esperar
Por trás de uma startup existe a necessidade de validar um modelo de negócio e fazê-lo crescer. Para ter espaço no mercado, a nova empresa precisa ter uma proposta inovadora para seu público-alvo e estruturar um modelo de negócio que seja muito atraente para potenciais investidores.
Isso não é uma tarefa fácil. Um estudo da aceleradora Startup Farm publicado na Época Negócios mostra que 74% das startups fecham após cinco anos de existência e 18% antes dos dois anos de idade. Para as que sobrevivem, o desafio é crescer o negócio, que significa dobrar e até triplicar de tamanho em curtos espaços de tempo. E tudo isso dói. Dói muito. É um processo de muito trabalho, incertezas e muitas mudanças pelo caminho.
Desafiador, não é? Mas aqui que vem a maior das oportunidades: a de fazer parte do sonho e ter a chance de crescer junto com a empresa para realizá-lo. Para mim, esse é o maior de todos os ganhos – muito maior que os lanchinhos ou qualquer outro mimo.
Contudo, para crescer e fazer a empresa crescer é preciso estar bem preparado.
Aqui na RD, sempre falamos que estamos em um foguete pela nossa velocidade de crescimento. Eu, como líder de área de Serviços, faço parte de processo seletivos. E sempre falo para candidatos na entrevista final: “para fazer parte do foguete você precisa estar na velocidade do foguete”. Ou seja, se quer trabalhar em uma empresa acima da média, você também precisa ser um profissional acima da média. Uma moeda de troca justa, não é?
E então vem a pergunta: “o que eu faço para ser um profissional acima da média e com isso ter boas oportunidades de crescimento?”.
É preciso ir além do conhecimento técnico
Todo mundo sabe que para ser um bom profissional é preciso ter um mínimo de conhecimento técnico da função que irá exercer. A vida nos prepara para isso com escolas técnicas, faculdades e pós-graduações.
Porém, o que poucos veem é que são comportamentos e atitudes que fazem a diferença na hora de ser um excelente profissional, acima dos demais. Conhecimento técnico todos podemos ter, mas quem vai se sair bem é quem souber conciliá-lo com as atitudes e comportamentos corretos que abrem caminhos.
Não trabalha em uma startup? Saiba que essas dicas são para qualquer pessoa, pois mesmo em outros tipos de empresa podemos ter atitudes que nos façam crescer. Assim, leia que eu sei que fará sentido para você também. 🙂
Atitudes corretas para crescer profissionalmente
Antes de falar das atitudes, vou falar um pouco de mim para você entender por que vejo que posso falar sobre esse assunto
Há 5 anos tive a oportunidade de entrar na área de Customer Success da RD, quando estávamos começando a estruturar esse time. Eu serei sincera em dizer que não fazia ideia do que era CS, mas sabia que a oportunidade era boa, além de fazer sentido para mim porque já estava há alguns anos no mercado de Marketing Digital, o core business da RD. Bom, de quem não sabia o que era CS, hoje lidero nossa área de Serviços (hoje com cerca de 40 pessoas) e recebi esse ano o título de Top 100 estrategistas de CS globais, além de ter tido a oportunidade de palestrar no maior evento de Customer Success do mundo, o Pulse em San Francisco.
Com certeza eu ainda tenho muito para crescer, mas me orgulho de onde já estou, muito mais longe do que várias pessoas com oportunidades parecidas. E para mim está claro que algumas atitudes me levaram a essa conquista.
Também como líder, trabalho diariamente com muitos outros jovens em meu time. Durante esses anos, já vi muitos se destacarem e outros nem tanto. Observando eles também aprendi algumas dicas interessantes.
Sem mais delongas, divido aqui com vocês alguns dos pontos que considero importantes para crescer:
1. A sua carreira é sua: não espere ninguém pensar por você
Esse é o ponto zero. Muitas vezes o colaborador espera que a empresa trace todo o caminho por ele, seja um plano de carreira definido ou o apoio de seu líder direto.
Essas coisas ajudam, com certeza, mas não se engane: ninguém pode – e nem vai – trilhar o caminho por você. Até porque convenhamos: o mais interessado em sua carreira é você, não é?
Assim, não espere que seu líder planeje sua carreira e execute o plano, pois esse não é o papel dele. Um bom líder ajuda a traçar o caminho, mas quem percorre é só você.
Sabendo isso, tome agora as rédeas de seu crescimento profissional e vamos em frente!
2. Tenha a regra do jogo clara: você está lá para trazer resultados
Coloco esse ponto pelo seguinte: alguns profissionais, especialmente os mais jovens por serem novos no mercado, não entendem bem a regra do jogo.
Mas é simples, se você foi contratado para uma função, é porque ela resolve um problema e traz resultados para a empresa. Por maior ou menor que seja o impacto, é para fazer essa empresa crescer.
Ninguém está fazendo um favor de te dar um emprego apenas para que você tenha um salário, e tampouco você está pagando uma mensalidade para que as coisas sejam como você quer. Pelo contrário, o esperado de ti nessa troca é o seu trabalho e dedicação, de forma que ambas as partes saiam ganhando.
Assim, para manter essa relação de ganha-ganha, quanto mais ROI você trouxer para a empresa melhor – e maior suas chances de se destacar.
3. Seja a solução, não o problema
Sejamos realistas: nenhuma empresa é perfeita, seja ela grande ou pequena, pública ou privada. Em uma startup não é diferente. Tudo precisa ser construído e reconstruído à medida que ela cresce, muitas vezes com o avião em pleno vôo. É muito trabalho a ser feito, o tempo todo. Assim, no momento que se deparar com algo que não está bom, não aponte dedos. Em vez disso, sugira soluções. E, de preferência, execute essa solução.
Posso dar aqui um exemplo pessoal: quando entrei na RD éramos em 20 pessoas (hoje somos cerca de 700). Ainda estávamos começando, ou seja, muito a ser feito. Lembro-me perfeitamente de ver que vários processos ainda não estavam feitos quando eu entrei, como um bom onboarding de novos colaboradores.
Eu tenho facilidade com processos e por isso fui apontando os problemas para meu líder, acreditando que estava ajudando a mapeá-los. Era uma atitude que eu acreditava ser correta e inclusive que me fazia ser bem vista. Até que um dia ele me olhou e disse: “Eu já sei de todos esses problemas, Lary, mas e aí? O que você fará por eles?”. Isso me impactou profundamente, pois foi quando percebi que minha atitude não era nada positiva, pois não estava ajudando a resolver.
A partir de então mudei completamente: hoje em vez de apontar dedos tento resolver as oportunidades que encontro, muitas vezes sem nem passá-las para frente.
Se você tem um cargo de liderança, verá que isso se torna ainda mais essencial, pois cada vez que você cresce na escada da gestão mais problemas você deve resolver. E é para isso que você está lá. Quanto mais problemas você conseguir resolver sem escalar, melhor estará executando o seu papel.
4. Colabore, não compita
Existe um pensamento antigo que dita que para crescer é preciso saber mais do que seus concorrentes, deixando de compartilhar boas práticas para que os outros não cresçam. Esse pensamento, contudo, está cada vez mais perdendo força e inclusive virando uma atitude negativa no olhar de várias empresas.
Em uma startup, a colaboração é muito importante, super valiosa. Estamos sempre juntos em prol de um objetivo comum e só com o time unido que conseguimos sair do lugar – ainda mais se a empresa está só começando.
Sempre que puder, compartilhe o que sabe, apoiando os colegas a crescerem. Isso inclusive cria uma “corrente do bem”, onde quem é ajudado quer ajudar depois (já vi muito disso aqui dentro da Resultados Digitais). E quem compartilha acaba virando uma referência para os outros, o que também ajuda a se destacar e crescer.
5. Tenha a visão do todo
Algo que considero grave: não conseguir entender toda a estratégia por ficar apenas em seu lugar, olhando para o próprio umbigo. Se isso ocorrer, você pode ter problemas para crescer.
Darei um exemplo: se algo na estrutura da empresa mudar e você não conseguir ver além de si mesmo, entendendo a estratégia por trás, você vai enxergar apenas o impacto para si, sem entender o todo. Com isso, você se frustra e pode ter dificuldade de aceitar as mudanças – causando uma má impressão para os demais. Você sofre por olhar apenas para si e os demais sofrem com sua inflexibilidade.
Por isso, estar atento ao que ocorre e também ter empatia com os outros, como líderes e tomadores de decisão, ajuda você a estar sendo alinhado e também a comprar as ideias com mais facilidade. Claro, aqui também esperamos que os líderes façam bem esse papel de dar a transparência necessária sempre que possível.
Uma boa forma de ter a visão de todo é ser próximo de seu líder e também de pessoas-chave de outras áreas. Assim, entenderá mais do negócio de maneira geral, abrindo seus horizontes e facilitando caminhos.
6. Raise your own bar
Aqui voltamos ao ponto das empresas que querem se destacar no mercado – quem sabe até chegar ao grande sonho em comum de ser um unicórnio. Isso não é para todos: crescer muito e rápido é para as empresas que se dedicarem acima da média. Consequentemente, isso vale para quem está dentro delas.
Mas como você irá se destacar se está entregando exatamente o mesmo que os outros? Isso o faz estar na média, não é verdade? Aqui na RD temos falado muito do termo “Raise the bar”, pelo qual queremos incentivar todos a serem cada vez melhores, acima da média, em direção ao excepcional. Porém esse não é um caminho fácil, que exige dedicação acima da média também.
Como eu posso subir a minha própria barra? Uma forma simples é pensar: se eu já exerço bem minha função, como posso fazer para fazê-la ainda melhor? Será que posso me aprimorar em conhecimentos, fazendo cursos e lendo livros? É uma opção. Ou será que há mais coisas que eu possa absorver além de minha função principal?
Vale conversar com colegas e líderes para encontrar atividades que não só contribuem mais e resolve mais problemas, mas que te façam se desenvolver como profissional.
7. Não procure uma zona de conforto: pelo contrário, aproveite para se testar!
O bacana de uma carreira em startup é você ter a chance de fazer muitas coisas diferentes. Se enxergar isso como uma oportunidade, você tem muito a crescer!
Muitas pessoas acabam procurando a zona de conforto por motivo de segurança. E tudo bem, isso é natural para perfis que procuram a estabilidade. Porém, não podemos deixar de ver que talvez se lançar ao fogo nos faça crescer mais.
E daí a pergunta: se você seguir fazendo exatamente o que começou o ano fazendo, sem mudar nada, o quanto você terá crescido no final do ano? E se tivesse se arriscado um pouco mais, será que teria crescido um pouco mais?
Se tiver a oportunidade, viva novas experiências. Pode ser um projeto, uma iniciativa. Ou pode ser uma nova job. Se tiver espaço para experimentar, experimente. Talvez em outra empresa você não teria tanta oportunidade de se testar – e se conhecer para saber qual rumo quer realmente seguir.
8. Aceite feedback – e faça do limão uma limonada
Sejamos sinceros: ninguém é perfeito. Nem você, nem eu, nem seu chefe, nem sua estimada mãe. Todos temos qualidades e também defeitos, que eu prefiro sempre ver como oportunidades de melhoria. Mas o ponto é: todos temos alguma (ou algumas) coisa que poderíamos ser melhores.
Assim, se você recebe um feedback construtivo, saiba que ele é para o seu bem. Quando é que você poderia melhorar em algo se não tivesse consciência que precisava melhorar?
Importante: na hora de receber um feedback, esteja tranquilo, de cabeça aberta. Se ficar na defensiva, se justificando ou negando, note que você sairá da conversa exatamente como entrou, e então o que você ganha com isso? Agora, se você se propõe a ouvir e aceitar o feedback, você está se dando uma oportunidade de ser melhor. E isso é simplesmente fantástico.
Lembre-se também: nem sempre é confortável dar um feedback, então tenha empatia com o esforço que a outra pessoa fez para dar um feedback e ajudar você a crescer. Afinal, se ela não se importasse contigo por que gastaria o tempo dela tentando te ajudar?
Não recebe feedback com constância? Então é hora de ir atrás deles! Como já disse, não coloque na mão dos outros o seu próprio crescimento: se falta dados para você se conhecer, vá atrás deles perguntado para colegas e líderes. Ter o hábito de dar bons feedbacks é o melhor incentivo para que seus líderes e colegas também façam o mesmo.
9. Seja grato
Acima de tudo, seja sempre grato ao que você já tem.
É muito comum querermos sempre olhar para frente: o quanto mais posso crescer, qual meu próximo desafio, qual minha próxima promoção. Contudo, isso traz um efeito perverso, que é não aproveitar bem o momento presente, criando uma ansiedade de pensar que sempre estamos no lugar errado. Isso é ruim por vários motivos: além de te fazer infeliz, faz com que perca a motivação para poder ir mais longe. Por isso, não importa o que aconteça ou o quanto você tenha que se dedicar, seja grato ao que já tem nas mãos.
Ser grato também traz mais alegria ao dia a dia. Eu, por exemplo, faço um exercício todas as manhãs: em vez de acordar pensando em todos os meus problemas do dia que virá, a primeira coisa que faço é uma lista de 5 coisas pelas quais sou grata.
Pode ser algo simples: o dia ter acordado com sol, o sono bem dormido, uma reunião empolgante que terei. Esse simples exercício torna minhas manhãs muito mais leves, e por consequência todo o meu dia. 🙂
Muito bem, fecho aqui as minhas dicas. Mas e agora, como colocar as coisas em práticas e assegurar que vou melhorar como profissional? Vamos ver agora uma ferramenta simples, mas eficaz.
Plano de Ação: saiba acelerar seu crescimento tendo um planejamento claro
O mais importante para crescer é ter um plano traçado, com metas e entregas claras. Isso traz organização e também priorização do que deve ser feito para que não fiquemos com muita coisa no prato, sem clareza do que fazer antes e como fazer.
Existem vários formatos de Plano de Ação/Plano de Desenvolvimento (ou como você preferir chamar). Eu gosto de usar um formato simples e direto ao ponto. Compartilho abaixo um formato que uso muito:
Nesse formato, veja como funciona a organização:
- Pontos de melhoria: aqui você escolhe qual o foco que você quer dar no desenvolvimento. Exemplo simples: Melhorar minha comunicação;
- Ação a ser executada: ali você pode ter uma ou mais ações que ataquem o mesmo ponto de melhoria. No exemplo acima, eu poderia ter ações como “Dar feedback de forma mais clara” e “Me comunicar de maneira mais suave em reuniões”. São ações que eu consigo executar e que trarão um ganho claro sobre o ponto que quero melhorar;
- KPI: seriam os indicadores de performance, para determinarmos nossas metas. No exemplo do feedback, poderia colocar que meu indicador será “dar 5 feedbacks claros semanalmente”. Assim, consigo medir se minha ação teve o resultado esperado ou não;
- Frequência: simplesmente dizer se é algo que fará uma vez ou mais vezes, de acordo com o que fizer sentido com a ação proposta;
- DDL (deadline): se tiver uma data final para a execução, preenchar para saber até quando precisa executar cada uma das ações;
- Status: aqui é tanto para você quanto seu líder (que idealmente deve acompanhar seu Plano de Ação) saberem como estão as coisas para debaterem em suas conversas.
Simples, claro e muito efetivo. Que tal colocar em prática?
Uma dica é não tornar seu Plano de Ação um monstrinho: escolha até 3 pontos de melhoria e algumas ações (sugiro no máximo 4) em cada ponto. Senão você corre o risco de se sobrecarregar de ações e se frustrar por não fazer tudo, além de tirar o foco do que é mais importante. Se preciso, converse com seu líder e colegas para ajudar a entender as prioridades.
Para finalizar, minha última recomendação: tenha disciplina para executá-lo. É muito comum ver pessoas montando planos e os abandonando logo em seguida, sem voltar para checar se o que foi escrito está sendo executado.
Porém, não apenas a vontade faz as coisas acontecerem: disciplina é fundamental. “Discipline equals freedom”, como diz o escritor Jocko Willink no livro de mesmo nome. Apenas ela leva à realização. Com isso, acompanhe seu plano com frequência. Eu, por exemplo, tenho um horário toda sexta-feira para revisar o que fiz na semana e organizar os passos da próxima.
Espero que todas as dicas tenham sido úteis para você. Se você já tem uma carreira em startup, espero que com toda essa reflexão faça com que você evolua mais rápido. Se ainda não trabalha, espero que tenha trazido clareza do que irá te esperar e como aproveitar ainda mais essa oportunidade.
No fim das contas, os puffs e os lanchinhos são ótimos, mas o que vai mesmo fazer feliz é ver o seu próprio crescimento – e o da empresa, é claro.